1 de ago. de 2009

;-;

"Eu finjo que não sinto a tua falta. Como a planta que necessita viver no deserto finge não precisar da água; e a todos os dias esmiúça o céu, buscando nuvens de chuva. Aprendi a viver sem ti. Assim como o peixe, confinado em um aquário, aprende a viver sem o mar. Entretanto, não sou completo. Pois tanto te dei de mim, que hoje me falta a porção que confiei às tuas mãos. Vivo. Pois a saudade deixa intacto o corpo, enquanto dilacera a alma. Já não preciso ouvir a tua voz. Pois, em todo esse tempo, ensinei os meus ouvidos a esquecer a esperança. E não preciso do calor dos teus braços. Consegui acostumar-me ao frio em que a tua ausência envolveu a minha alma. Já não vejo o mundo pelos teus olhos. E, assim, sou como o cego que abençoa a escuridão que o envolve. Entretanto, embora a razão me tenha ensinado a viver sem ti, o que direi ao coração que te pertence? Não choro por ti. Hoje, apenas acalento esta saudade. Como a mãe que adormece no berço do filho que se foi. Pois as lágrimas do coração nem sempre escorrem pelos olhos; são, as vezes, como raízes que crescem sob a terra. E é assim o meu amor. Que nada exige, apenas existe. E, sem ti, é como um céu que houvesse perdido as suas estrelas. Ou como um sonho, que teme esfumar-se ao nascer da manhã.
Mas os dias continuam a passar. E o mundo não se detém em respeito à minha saudade. Por isto, eu continuo a viver. Para que um dia me possas encontrar, se acaso me buscares. Acredita! Eu sempre estarei à tua espera.
Mas, enquanto não voltas, preciso fingir que não sinto a tua falta. Como se alguém pudesse esquecer a própria vida..."

Texto do livro "A Sabedoria de Hassan".

Um comentário:

; disse...

Que bonito ;-; caraca. Surtei