19 de mai. de 2020

Modo Quarentena

De todos meus medos, que não são poucos, a solidão sempre se sobressaiu, camuflada por camadas de pseudo-planos de ser bem-sucedida. E quando seu maior medo se torna realidade, encarar espelhos 24h por dia é torturante.

Não lembro que dia foi minha última conversa (trocar mensagens não é conversar, conversas contém dedicação, doação, simpatia e empatia), mesmo com algumas tentativas (muitas frustradas), sequer sei que dia é hoje. Não há diferença entre as quartas e as sextas, ou domingos.

Pode parecer ridículo e egoísta em um momento de pandemia mundial pensar nesse tipo de coisa, mas estar em isolamento é enfrentar o espelho pra si em tempo integral sem possibilidade de fuga ou acalentos. Pra uma mente ansiosa, é desesperador. Focar no presente em circunstâncias normais já é desafiador, a tendência a querer antecipar o futuro é grande... Mas quando não se sabe o que vem no futuro, ou quando chega...

"Lar é onde o coração está" é o que sempre disse... Minha casa sempre foram abraços sinceros, sorrisos, brincadeiras, piadas internas, dias memoráveis, perrengues no transporte público, brigas infundadas, noite de filme com pipoca. E hoje olho pra tela do celular, pras fotos e conversas e não sei mais interagir. Com meus amigos, com meus amores. Com meus lares.

"Vai passar, estamos juntos nessa" é o que escuto, mas minha mente depressiva, autodepreciativa e com grandes complexos de inferioridade não enxerga mais um lugar para se encaixar. Os quebra-cabeças estão completos e eu sou a peça que veio a mais e ninguém entende porque esteve ali em primeiro lugar.

Já perdi as contas de quantas vezes chorei com mensagens bobas, com meras lembranças ou vendo fotos. Já cansei todo mundo com meus "tô com saudade", "sinto sua falta" e me seguro pra não dizer "te amo" a cada segundo.

- Bom dia, te amo.
- tudo bem? Eu amo você.
- já viu série tal? E já disse hoje o quanto te amo?

E não é banalização. Só é a palavra mais forte que eu conheço, e a expressão máxima do quanto sinto falta de cada mínima coisinha e do quanto me sinto só.

Desculpe, mas não estamos todos no mesmo barco. Talvez estejamos todos no mesmo oceano... Mas meu barco tá vazio. E continuo tentando torcendo que seja levada pra perto de outros barcos e que ainda precisem de remadores por lá.

Tudo o que vejo é água... E já não sei o que é oceano e o que são lágrimas.