19 de jul. de 2010

viagem

Este post é a quase-continuação do post anterior.

Então, como eu disse anteriormente, eu viajei. E não foi por livre e espontânea vontade, muito menos por um motivo agradável... Minha bisavó estava em coma e depois veio a falecer.

Mas não estou escrevendo para me lamentar ou para demonstrar minha tristeza, até porque já faço isso demais. E não vou lamentar por ela, porque tenho consciência de que foi o melhor para ela... Não gostaria de vê-la em cima da cama sofrendo. 

Então, por que estou escrevendo? Porque nessa viagem ocorreu uma sequência de fatos, que me fizeram ver que até na maior das dores, você pode se divertir... se quiser.

Para começar, viajamos de noite até Manhuaçú (MG), onde ela estava internada. Ao chegar lá, percebemos que não fazíamos a menor ideia de onde era o hospital. O que fazer nesse caso? Pedir informação, certo? Não nesse caso. O pessoal de lá não tem a menor noção de direita e esquerda, e nós fomos parar no meio do nada, até que uma boa alma nos disse a localização correta e, quando estávamos quase chegando, avistamos uma estátua gigantesca... e era um homem com uma peneira na mão. Sim, uma peneira... No meio da praça. O que raios isso tem a ver com qualquer coisa? Não sei. Mas a estátua reluzia na escuridão e nos fez sair do carro e ficar olhando hipnotizados com aquilo. Ou seja, nos tornamos retardados parados, mais de meia-noite, no meio da praça olhando para 'O homem da Peneira'.

Depois que nos demos conta da nossa situação, seguimos o caminho e finalmente encontramos o hospital. Passamos a noite acordados, e o dia seguinte também. Durante a manhã fomos à lanchonete tomar café da manhã. Tivemos de subir e descer várias ladeiras (muito, muito íngremes) até encontrar alguma lanchonete naquele fim de mundo. Mas finalmente conseguimos. Ao chegar lá, abri a geladeira à procura de alguma coisa para beber... e me deparei com uma caixa enorme de ChocoMil (um achocolatado muito ruim que dão como lanche na faetec). Olhei para aquilo e comecei a rir tão alto, que todos do local ficaram olhando para mim. Foi constrangedor, muito constrangedor... Mas tão divertido, que me arrependo de não ter tirado foto daquela caixa e da reação das pessoas ao redor.

Enfim, percebi que não aguentaria ficar no hospital durante o fim de semana inteiro... e isso me fez ir para a casa da minha bisavó em Ibatiba (ES). Todos estavam tristes, chorosos... E, como eu estava mais tranquila, tinha de tentar acalmá-los. Mas não sou boa nisso... Depois de um tempo, desisti. Houve um monte de confusões, brigas e coisas do tipo... não vou ficar comentando sobre isso. No domingo de madrugada, chegou o aviso de que minha bisavó tinha falecido. Podem dizer que sou uma pessoa horrível e que só ligo para mim. Mas eu já sabia, desde quinta-feira (quando viajamos) que ela tinha morrido e só estava sobrevivendo por intermédio dos aparelhos... e era óbvio para qualquer pessoa que enxergasse a realidade que se ela suportasse, iria ser em estado vegetativo. Eu não queria isso para ela... portanto, a notícia de sua morte foi como se uma parte de mim ficasse mais tranquila. E eu só pensava em dormir. É sério, só nisso. Mas não deixaram. Óbvio.

Começaram os preparativos do velório... e o chá. O maldito chá. Juro que devem ter feito umas 200 garrafas térmicas de chá só nesse dia. Era ver uma pessoa suspirando, vinha um e oferecia: 'Quer chá?', caía uma lágrima: 'Quer chá?', ficava muito tempo sentada: 'Quer chá?'. É sério, acho que se juntasse a quantidade de chá que as minhas tias tomaram nesse dia, daria para o suprimento de chá para o Acre inteiro durante uma semana. Tá, exagerei. Enfim, cada vez que faziam o chá colocavam uma erva diferente, e, de madrugada, as pessoas já não sabiam o que estavam tomando... talvez tivesse grama e capim ali, e ninguém soubesse. Só sei que minha tia E. estava à quase um dia sem se alimentar, tomou o chá e dormiu a tarde e a noite inteira. A tia J. ficou bêbada com o chá e começou a desfilar, achando que estava na Vieira Souto. A tia N. começou a contar piada. A casa ficou uma loucura!

Durante a madrugada, fui com meus primos nos alimentar... e paramos em outra lanchonete. OH MEU DEUS! Não posso mais ir em nenhuma lanchonete! Chegando lá, fui ver o nome dos sanduíches: 'cocota', 'cocotinha'... e o riso começou. De maneira histérica, porque não sei me controlar. Ou seja, todos olharam para mim de novo.

Como em todo velório, pelo menos os que já me contaram, depois de um tempo começam a contar histórias engraçadas e nesse não foi diferente. O que eu adoro nessas histórias é que surgem podres da minha mãe que eu posso usar contra ela depois. Do tipo, pular a janela para ir para as festas, se embebedar, etc. Mas não lembro de nenhuma completa para contar aqui. Tem outras coisas que tiveram graça também, mas já contei para as pessoas que entenderiam, então não vejo sentido em colocar aqui. Até porque o post já está muito grante.

Acho que, no fim, tudo isso serviu para que nos lembrássemos o quanto todos gostavam da minha bisavó (a cidade inteira estava no velório... sem brincadeira. Não tinha lugar na casa nem para andar!) e o quanto ela queria nossa felicidade.

Só mais uma coisa...

Alguém quer chá?

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