17 de jun. de 2021

É sobre isso

Mas sobre o quê? Passou-se o tempo em que eu entendia memes, ou sabia os lançamentos musicais. Passou-se o tempo em que eu devorava livros, ansiava por uma nova série, comprava ingressos antecipados pro cinema ou planejava o próximo show que iria. Passou-se o tempo em que eu sabia exatamente qual seria minha viagem e o que eu queria fazer. 

Essas coisas me parecem outra vida... ah, pandemia, ok. Mas eu parei. Parei no tempo, no sentido, nada mais tem razão de ser. Os dias são opacos e sombrios, todos iguais. Cadê a luz, a alegria, a vontade de viver?

Em algum momento a luz se apagou. Provavelmente entre os inúmeros acontecimentos trágicos da minha vida. Mas então é sobre o quê? Respirar, fingir produzir algo, comer e dormir? Seria isto viver, no fim das contas? 

Alguém me perguntou como que foi meu dia? Não, Chorão... Uma palavra amiga e uma notícia boa fazem muita falta no dia a dia. Mas talvez eu já não saiba mais nem o que é isso... talvez eu não saiba mais ser amiga. Só sei dar respostas automáticas pra perguntas retóricas, porque não, não tá tudo bem, tá tudo um desastre sem fim. Mas alguém tá bem? 

Ao mesmo tempo, é justo comparar tudo com a dor dos outros? Dizem para que eu não me compare, mas então comparam minha dor... é sobre isso, afinal? É sobre o quê?!

Comparar minha dor é o mesmo que me comparar, é o mesmo que me colocar na caixinha de pessoas que tem problema nesse mundo e não se importar com o meu individualmente. Eu não quero tratamento especial, mas quero sim ser ouvida sem escutar que "todo mundo passa por algo" ou que "não nos dá fardo que não possamos carregar", porque eu me sinto confundida com o Rambo. 

Acolher a dor não quer dizer concordar com o que eu digo, mas entender que minha fala reflete meu sentir e meu sentir é afetado por todas as minhas feridas, e estão todas abertas, jorrando sangue. E eu não estou errada em sentir, não posso estar errada nisso... porque aí eu só sou completamente errada. Acolher é só me deixar sentir, verdadeiramente me ouvir (e não apenas escutar esperando o momento de responder) e entender o porquê de me sentir assim, é saber de mim, conhecer a mim, e não essa imagem que uso diariamente pra dizer que "tá tudo bem".

Certa vez escrevi sobre a solidão de estar no meio de um monte de gente... agora não tem mais um monte de gente e eu sinto falta das vozes, porque as vozes externas apagavam o som das internas, que estão me sugando e eu só me sinto sozinha, solitária e morta, mesmo que o coração cisme em continuar batendo.

No final das contas, as vozes gritam: insuficiente, inútil, não vale a pena, rejeitada, invisível, ninguém nunca vai te ver, todos vão embora, sozinha, incapaz de ser amada. É sobre isso.

19 de mai. de 2020

Modo Quarentena

De todos meus medos, que não são poucos, a solidão sempre se sobressaiu, camuflada por camadas de pseudo-planos de ser bem-sucedida. E quando seu maior medo se torna realidade, encarar espelhos 24h por dia é torturante.

Não lembro que dia foi minha última conversa (trocar mensagens não é conversar, conversas contém dedicação, doação, simpatia e empatia), mesmo com algumas tentativas (muitas frustradas), sequer sei que dia é hoje. Não há diferença entre as quartas e as sextas, ou domingos.

Pode parecer ridículo e egoísta em um momento de pandemia mundial pensar nesse tipo de coisa, mas estar em isolamento é enfrentar o espelho pra si em tempo integral sem possibilidade de fuga ou acalentos. Pra uma mente ansiosa, é desesperador. Focar no presente em circunstâncias normais já é desafiador, a tendência a querer antecipar o futuro é grande... Mas quando não se sabe o que vem no futuro, ou quando chega...

"Lar é onde o coração está" é o que sempre disse... Minha casa sempre foram abraços sinceros, sorrisos, brincadeiras, piadas internas, dias memoráveis, perrengues no transporte público, brigas infundadas, noite de filme com pipoca. E hoje olho pra tela do celular, pras fotos e conversas e não sei mais interagir. Com meus amigos, com meus amores. Com meus lares.

"Vai passar, estamos juntos nessa" é o que escuto, mas minha mente depressiva, autodepreciativa e com grandes complexos de inferioridade não enxerga mais um lugar para se encaixar. Os quebra-cabeças estão completos e eu sou a peça que veio a mais e ninguém entende porque esteve ali em primeiro lugar.

Já perdi as contas de quantas vezes chorei com mensagens bobas, com meras lembranças ou vendo fotos. Já cansei todo mundo com meus "tô com saudade", "sinto sua falta" e me seguro pra não dizer "te amo" a cada segundo.

- Bom dia, te amo.
- tudo bem? Eu amo você.
- já viu série tal? E já disse hoje o quanto te amo?

E não é banalização. Só é a palavra mais forte que eu conheço, e a expressão máxima do quanto sinto falta de cada mínima coisinha e do quanto me sinto só.

Desculpe, mas não estamos todos no mesmo barco. Talvez estejamos todos no mesmo oceano... Mas meu barco tá vazio. E continuo tentando torcendo que seja levada pra perto de outros barcos e que ainda precisem de remadores por lá.

Tudo o que vejo é água... E já não sei o que é oceano e o que são lágrimas. 

5 de nov. de 2017

278

A vida é feita de números

Aproximadamente 930 dias juntos
Exatamente 737 desde o dia fatídico onde as coisas começaram a desandar.
52 meses desde que te conheci

278 fotos que hoje eu apaguei.
Momentos nossos que eu dizia guardar para que a memória daqueles dias bons permanecessem... afinal, nem tudo foi ruim, tivemos quase 2 anos e meio de memórias maravilhosas, de dias incríveis e de coisas que vou guardar pra sempre no coração.

Mas olhar pra essas fotos não me trazia mais nada.. eu lembro desses dias, eu lembro de ser feliz ao seu lado. E eu também lembro do depois. E eu não preciso mais olhar pra nossas fotos, ou mesmo tê-las (embora eu ainda admita que ficávamos bem nelas) porque a verdade é que hoje foi meu adeus.

Pra valer dessa vez. E nem doeu. Não teve choro, ou dor... ou nem mesmo a esperança de que talvez você reaparecesse.

Agora eu tô num momento meu... um momento muito bom de autoconhecimento, de saber quem eu sou.. de não ter ninguém pra me preencher, de ser tudo o que eu preciso para estar completamente cheia.

Para quando eu me apaixonar de novo eu não precise preencher nenhum vazio, e sim transborde meu coração com algo novo.

Dizer que tu saiu da minha vida é mentira... estará sempre aqui. Mas no passado, onde já devias estar há 737 dias.

30 de out. de 2017

30/10/2017

Um dia antes do meu aniversário. Um dia antes do dia do ano que eu mais espero. E dessa vez tá maravilhoso.

Os últimos anos não foram tão legais e me fizeram ficar desanimada. Esse ano decidi fazer diferente, nada de festas, nada de parabéns, coisas desativadas e o fato de estar sem celular me ajudou bastante. Decidi vir pra Petrópolis, só eu, minha mãe e um casal de amigos. Nogueira, pra ser mais específica. Fazer meu presente ser uma cama confortável, piscina, alguém pra fazer minhas refeições e arrumar minha cama durante 3 dias.

Daí chega dia 30/10 e como que por ironia do destino começa a passar na Tela Quente o filme que mudou a forma como os últimos 2 anos e 6 dias se prosseguiram. (Vai Que Cola, pra futuras referências).

O tempo é algo subestimado e superestimado ao mesmo tempo. Superestimado por todas as pessoas que acham que o tempo vai curar tudo, como se fosse um grande curandeiro dos problemas do mundo. O tempo não cura... ele alivia de acordo com as suas ações para melhorar seu próprio desenvolvimento.

Mas é subestimado também por aqueles que passam pelos problemas e acham que nada mais nunca vai dar certo. Eventualmente fica melhor.

E sim, está muito melhor. Se ainda lembro? Claro! Se sinto falta? Não mais. Na verdade me parece algo distante, acontecido em outra vida... uma memória ruim feita para que eu amadurecesse.

Falar no telefone mais não acelera meu coração, não falar já não me é doloroso e melhor ainda, eu consigo ver um filme sem sentir como se minha vida tivesse um antes e depois. A minha vida é muito mais que isso... é muito mais que uma pessoa, e definitivamente é mais que dois idiotas.

E se hoje eu consigo lembrar de uma das piores memórias da vida e ainda rir das piadas... Eu posso muita coisa!

"Mas Jéssica, sabe por que não tenho emprego? Porque eu tô desempregado!" (Cola, Vai Que) haahahha 

7 de abr. de 2016

Eu sou o depois

Eu sou o depois... o "depois te ligo", "depois conversamos".
Eu sou o depois... o "vamos marcar um dia" ou "vamos ver".
Eu sou o depois... o "depois te falo", "mais tarde vemos isso", "depois te explico".

Eu sou o depois... o "meu carro quebrou", "lembrei que tinha médico".
Eu sou o depois... o "chegou visita", "fui ajudar o vizinho".
Eu sou o depois... o "está chovendo", "posso deixar pra amanhã?"

Eu sou o depois... "depois te vejo", "depois te olho", "depois te noto".
Eu sou o depois... o "depois te amo".

Estou cansada de tantas desculpas, de nunca ser prioridade pra ninguém...
De praticamente implorar por amizades ou por encontros, que demoram meses para acontecer.
De correr atrás quando ninguém corre atrás de mim.
De lembrar, mas nunca ser lembrada.
De conversar sozinha, rir sozinha e principalmente chorar sozinha.
Porque, para uma imediatista como eu, que sempre dou um jeito de fazer tudo ao mesmo tempo, o depois é quase uma eternidade.

Estou cansada de escutar e não ser ouvida quando preciso.
De auxiliar nas crises e nunca ter ninguém pra fazer o mesmo por mim.
De oferecer um abraço e um ombro amigo, e nunca ter um cafuné em retorno.
De dar palavras e só receber silêncio.
Ou mesmo de oferecer meu silêncio e só receber o vazio.

Eu sou sempre o depois...
Então depois eu vivo.

1 de abr. de 2016

Primeiro de Abril

Eu odeio primeiro de abril.

Por ser dia da mentira, todo mundo acha que pode pregar peças e tudo bem, porque é o dia da mentira!
Mas não devia ser assim...

Quando se vive numa mentira constante, você sabe o quão prejudicial isso pode ser, o quanto pode magoar e o quanto pode te levar tão mais ao fundo que você nem sabia que poderia ir.

Não estou falando dessas que são engraçadinhas, como a que a Netflix fez falando que estaria disponibilizando Game Of  Thrones. Não, isso tá ok. É legal: "poxa, como foi burra!". Tô falando das que podem gerar real oscilação de humor.

"Descobri que tô grávida."
"Vou me mudar pro Canadá"
"Terminei o namoro"

Eu vivo numa constante oscilação e já me é difícil controlar sem a paranóia de não saber se o ocorrido é ou não verídico. E dessa vez eu fiquei magoada. Sei que não vai durar... amanhã já estou com novos pensamentos na mente e deixarei isso pra lá.

Mas quantas vezes vou ainda suportar ser magoada assim?

Eu não fiquei feliz pelo término, eu só tive esperanças... de poder voltar a ligar a qualquer momento, de ter abraços mais constantes, de poder voltar a fazer parte da vida, de ter alguma coisa de volta quando tudo simplesmente vai embora. Eu nunca ficaria feliz por uma pessoa essencial na vida dele sair.. ainda mais porque seria um conjunto de pessoas saindo da vida dele. Eu fiquei preocupada com as mudanças que se seguiriam na rotina...

Mas por algumas horas eu voltei a ter esperanças. E tê-las arrancadas de mim doeu mais do que eu tenho coragem de admitir. Mas é primeiro de abril, tá tudo bem.

E essa é a maior mentira, que eu conto todos os dias. Tá tudo bem. E todos acreditam, afinal, nem todo dia é Primeiro de Abril.

31 de mar. de 2016

Eu sou apenas uma.
Mas eu tenho três transtornos psicológicos, que parecem se manifestar alternadamente...
E eu não estou inteira...

Me sinto espalhada em milhões em farelos, pois não há sequer mais pedaços a serem recolhidos. A cada dia eu quebro mais um pouco e sinto mais uma parte de mim ir embora sem perspectiva de volta.

Talvez sejam os transtornos falando, não sei.

Mas a verdade é que me sinto sozinha, aguardo ansiosamente por uma demonstração de carinho que nunca chega ou apenas um 'oi, lembrei de você'. Queria ser essencial na vida de alguém, importante.

Mas quando eu mesma não me sinto importante na minha própria vida, como posso pedir para ser na vida de outra pessoa?

Passo meus dias e noites sonhando acordada com amigos que já não tenho, abraços que não estão mais disponíveis ou dias que já passaram.

Minha vida atualmente é toda no passado. E não tenho forças para reverter isso.